Pesquisa mostra que apenas 2% dos jovens querem ser professores
Falta de qualificação dos novos docentes também preocupa pesquisadores.
A falta de professores qualificados ainda preocupa
no Brasil, e a desvalorização da carreira faz com que muitos jovens
prefiram outras profissões. Cerca de 600 mil professores que atuam na
educação básica - que inclui a educação infantil e os ensinos
fundamental e médio - não têm o preparo necessário à função, de acordo
com o Ministério da Educação (MEC). E apenas 2% dos jovens querem cursar
Pedagogia ou alguma licenciatura, segundo pesquisa da Fundação Carlos
Chagas.
Pela legislação atual, os professores da educação básica têm que ter
nível superior. Porém, cerca de 600 mil dos quase dois milhões de
docentes do país não possuem curso universitário, segundo o MEC. De
acordo com o secretário de Ensino Superior do ministério, Luiz Cláudio
Costa, cerca de 300 mil estão fazendo licenciaturas ou mestrado para se
adequar à exigência.
Na avaliação de especialistas, há carência de professores
qualificados em diversas áreas, como nos primeiros anos da educação
infantil e nas disciplinas de Física e Química. "Nas Ciências
Biológicas, faltam professores praticamente em todos os setores. As
redes procuram cobrir isso usando profissionais que, na sua formação,
tangenciam as disciplinas (em que há falta de professores)", diz a
pesquisadora Bernadete Gatti, colaboradora da Fundação Carlos Chagas.
Como outros especialistas, Bernadete se preocupa com a queda no
número de alunos de licenciatura ou Pedagogia. Segundo o MEC, esse
número vem diminuindo na modalidade presencial, por causa da falta de
interesse dos jovens. Em 2005, 1,2 milhão de alunos estudava alguma
licenciatura, número que, em 2009, passou para 978 mil. No mesmo
período, o número de alunos de Pedagogia caiu de 288 mil para 247 mil.
No entanto, houve expansão das graduações à distância, para atender à
necessidade de professores que já estão no mercado de trabalho. De 2005
para 2009, o número de estudantes das licenciaturas subiu de 101 mil
para 427 mil. Nos cursos de Pedagogia, o número pulou de 27 mil para 265
mil, no mesmo período.
"Nem todos os cursos à distância são ruins. Mas eles não são
supervisionados direito, não têm uma proposta clara. Muitos alunos
desistem porque não têm com quem discutir", diz a superintendente de
pesquisa em Educação da Fundação Carlos Chagas, Elba Siqueira Barretto.
A evasão dos cursos de Pedagogia e licenciatura também preocupa
educadores. "Nas universidades privadas, os cursos de licenciatura e a
Pedagogia são os que têm as taxas mais elevadas de evasão, de 50 a 55%",
afirma Maria Helena Guimarães Castro, ex-presidente do Inep, órgão
responsável pelas estatísticas do MEC.
Mas, segundo o MEC, dados preliminares já mostram que a taxa de evasão está diminuindo em algumas universidades.
"Quero lutar pela educação", diz estudante - Pesquisa
realizada em 2010 pelas fundações Carlos Chagas e Victor Civita mostrou
que, dos 1.500 alunos ouvidos, apenas 2% dos jovens do terceiro ano do
ensino médio pretendiam cursar Pedagogia ou alguma Licenciatura. "A
carreira é um horror. Apesar de os planos de carreira terem melhorado, e
de existir um piso salarial nacional (R$ 1.187 para jornada de 40 horas
semanais), eles deixam a desejar. A média salarial está baixa em
relação às exigências. Outra coisa que afeta a escolha é a condição das
escolas públicas, que são precárias, sem infraestrutura e gestão", diz
Bernadete.
Mesmo sabendo desses problemas, o estudante de Pedagogia Cesar
Scarpelli, de 24 anos, quer dar aulas para crianças. "Quero lutar pela
educação. Meus pais sempre falam: 'não vá trabalhar na rede pública',
por causa da ideia de que é uma profissão sofrível. Mas acho que temos
que ir para a periferia", avalia.
Rivaldo Vieira Xavier Júnior, de 21 anos, estuda licenciatura em
Física e sabe bem o que é sofrer com a falta de professores. "Estudei em
escola pública e fiquei sem aulas de Química por quase todo o segundo
ano do ensino médio. Tenho interesse em educação devido à realidade da
escola onde estudei. Ser professor no Brasil é ato de coragem."
Já a estudante de Pedagogia Maria Alice Bertodini diz que é preciso
ser sonhador para abraçar a profissão. "A ideia de ser professor é
idealista, é por amor, por gostar de crianças." Para o estudante de
Química Mauritz Gregori de Vries, de 20 anos, que dá aulas particulares,
falta vocação a muitos dos que estão fazendo licenciatura. "Às vezes,
as pessoas fazem a licenciatura porque sabem que a demanda por
professores é alta e que um emprego na indústria, por exemplo, é mais
difícil."
O secretário de Ensino Superior do MEC reconhece que os salários não
são adequados. Mas diz que a meta do governo é que, em 2020, o
rendimento médio dos docentes com a qualificação necessária seja o mesmo
que o de qualquer profissional com nível superior.
(O Globo)
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