segunda-feira, 10 de junho de 2019

Universidade pública: patrimônio da nação por Nelson Pretto

Prezados leitores do Blog Informação em cena
Segue matéria veiculada no Jornal da Ciência de autoria do Professor Nelson Pretto da Universidade Federal da Bahia.
Vale a pena a leitura sobretudo porque a universidade pública brasileira vem sofrendo com o contigenciamento imposto pelo atual governo federal.
Independente de divergências partidárias, lutemos pela Educação, lutemos pela universidade pública e gratuita!

Estamos vivendo ataques ao nosso sistema público de educação jamais dantes visto. O atual governo mirou especialmente nas Universidades Públicas e partiu para o ataque através da asfixia orçamentária, seguido de acusações verbais do Ministro da Educação à comunidade universitária, afirmando não serem elas “produtivas”, promoverem balburdias, abrigando nudes.
Em sessão no Senado, o Ministro Weintraub, mais uma vez com sua verve raivosa, criticou os últimos investimentos nas universidades: “a gente quis pular etapas e colocou muito recurso no telhado”, referindo-se aos investimentos no ensino superior em comparação com o básico.
A metáfora do telhado é inadequada. Não é possível uma edificação ficar sem a sua camada superior (o tal telhado), sob o risco de desmoronar por falta de proteção. Para além de proteção, o telhado referido é muito mais do que uma simples cobertura, e sim uma grande laje, cujo propósito a população pobre sabe muito bem qual é. Quando se bate uma laje em uma casa popular, o que se quer é ampliar o espaço. A sabedoria daqueles que são historicamente desprotegidos e que sustentam a sociedade brasileira com seu árduo trabalho, indica que, com isso, amplia-se a casa, abriga-se mais gente, filhos, parentes. Enfim, essa laje, o telhado do Ministro, não é uma mera cobertura, é de fato o que possibilita à população mais pobre uma verdadeira base de lançamento para o futuro. Para o indivíduo, ao lhe dar possibilidade de ampliação de sua formação – crítica sim, senhor Ministro, toda formação precisa ser critica. Para o coletivo (toda a sociedade), esses telhados/lajes que são as universidades públicas, se constituem como bases de lançamento para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. Ou seja, corresponde a muito mais do que o simples cobrir aquilo que está embaixo. Significa sobretudo a possibilidade de um país se desenvolver com soberania, autonomia e, para não perder o costume, com democracia e justiça social.
Assim, insistimos serem inaceitáveis essas ameças visando aniquilar o enorme patrimônio da sociedade brasileira que são as suas Universidades/Institutos Federais de Educação. Não podemos permitir que o acesso ao ensino superior seja restrito a uma parcela privilegiada da população brasileira, como era até bem pouco tempo.
A lei do PNE precisa ser respeitada e prevê que até 2024, 33% da população entre 18 e 24 anos esteja na universidade (no mínimo 40% no setor público). Estamos longe disso, com apenas cerca de 18%. Para tal, precisamos de recursos, cotas, políticas de assistência estudantil e forte investimento em pesquisa.
A defesa das nossas instituições de ensino e pesquisa deve superar as divergências partidárias, pois defender a universidade pública brasileira é tarefa urgente de toda a sociedade.

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