quarta-feira, 8 de julho de 2020

8 de Julho: Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador

No Dia Nacional da Ciência, 8 de Julho, trago para o Blog este artigo publicado no Jornal da Ciência.
Aproveito para expressar o meu orgulho de ser docente/pesquisadora de uma universidade pública e gratuita: a Universidade Federal da Paraíba.

Pesquisadores científicos e docentes do ensino superior constituem hoje no Brasil uma categoria diversificada quanto à origem social, formação cultural e visões de mundo. Convivem com diferenças quanto ao formato das instituições, pois podem pertencer a universidades públicas federais, estaduais e municipais e instituições privadas. O fator regional estabelece ainda um diferencial pela desigualdade de oportunidades e recursos disponíveis para ensino e pesquisa nos estados de um país de dimensões continentais.  E, como em todas as outras atividades, há componentes de diferenciação nas identidades de gênero e etnia, esta última muito relevante quando se considera a formação do Brasil.
Assim, ao comemorar o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, em 8 de julho, estamos falando de pesquisadores, cientistas, professores de ensino superior, que atuam no sistema nacional de ensino superior e nos institutos de pesquisas, caracterizado pela heterogeneidade, com um perfil mesmo que ainda em construção, importante. A diversidade é marca de desenvolvimento em tudo que nos cerca e imprescindível ao homem, em tudo que faz e constrói. Esse seguimento profissional vem conquistando admiração de seguimentos importantes da sociedade e com isso, nos últimos anos, o espaço conquistado vem crescendo, e mesmo que em alguns grupos ainda se denote certa timidez em afirmar a importância do trabalhador científico, nosso papel na sociedade brasileira vem conquistando mentes e corações. O que essas pessoas, apesar das diferenças, têm em comum? Quem são os pesquisadores científicos brasileiros? São, em sua grande maioria, sem dúvida, ligados ao Estado através das instituições a que pertencem. Optaram por carreiras que oferecem relativa segurança e têm seus salários estipulados em lei.  Atuam em uma atividade que precisa ser destacada, já que para a maioria da população somos funcionários públicos. Com isso, ser pesquisador parece ainda não ter a real visibilidade que merece pelo objeto e nobreza do trabalho, que é fazer pesquisa em todas as áreas do conhecimento, vital ao desenvolvimento de qualquer sociedade.
No momento em que o país atravessa um período de crise econômica sem precedentes, ao lado de uma crise sanitária jamais vista, com um governo professando visões claramente anticientíficas, o Dia do Pesquisador Científico propõe uma reflexão sobre a identidade desse grupo de profissionais. Pensar essa identidade e firmá-la com a importância devida parece ser a primeira necessidade da grande tarefa que se coloca hoje, principalmente para as novas gerações de pesquisadores. No quadro atual, alguns chegam a avaliar se foi boa a escolha que fizeram.
Essa reflexão não pode deixar de olhar a história, pois ela é a régua onde estão as referências, a perspectiva, e os termos de comparação para olharmos o momento atual. Em 2020, a principal entidade representativa dos pesquisadores científicos, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC, faz 72 anos. Comparada às centenárias instituições congêneres dos países europeus, é uma organização jovem. Mas com uma história fascinante de trabalho, ações e lutas em defesa da educação, ciência e tecnologia nacional é base de construção desta história, que é a história que edifica as nações ricas e soberanas.
Quando se olha o panorama atual da pesquisa científica no País, temos que celebrar. Mesmo com limitações ainda visíveis, temos um conjunto de profissionais de excelência que dialogam em termos de igualdade com o mundo global. Assim, é essencial valorizar o que foi construído com tanto trabalho e recursos ao longo dessas décadas. E este é um ponto importante da identidade desses profissionais. Todos são herdeiros, beneficiários e continuadores desse legado em constante construção. Entretanto, é difícil formular propostas inteligentes de avanços e soluções para a situação da enorme crise que vivemos. Talvez porque seja difícil formular essas propostas se elas não estiverem alinhadas a um projeto maior de democracia e compromisso com uma sociedade inclusiva para todos os brasileiros.
Pressuposto básico da atividade científica, é hora de exercitar a habilidade de fazer perguntas. Nada pode ser mais valioso no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Que seja um dia em que nossos sonhos e anseios sejam expressos em questões que nos aproximem cada dia mais de todos os brasileiros.
Fonte: Artigo de Vanderlan Bolzani, presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e membro do Conselho da SBPC, para o Jornal da Ciência

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